Ser Padre: vocação e Missão

Com este texto homenageio a todos os padres com quem trabalhei e a quem aprendi a admirar e respeitar.

Ser padre: vocação e Missão

Ser padre, ao contrário dos que muitos possam pensar, não é uma coisa simples e fácil. Muito prazeroso é verdade, pois reflete uma vocação assumida, uma entrega voluntária, a uma missão pela qual trabalhamos porque nela acreditamos. Mas, os desafios são imensos e é preciso adotar algumas atitudes para que nosso ministério não se torne pesado demais ou venha a naufragar.
Faz-se necessário estar atento às três dimensões:

  • ·         Cuidar de si;
  • ·         Cuidar das relações com o outro;
  • ·         Cuidar do outro.

Estas constituem três dimensões de uma única prática, as quais se integram, se complementam e se entrelaçam reciprocamente.

Em termos concretos, podemos perceber que quando mais Jesus aprofunda-se no conhecimento de si por meio de sua intimidade com o Pai, mais estreitos se tornam os laços com o grupo dos doze e com os discípulos que o seguem. E mais se desenvolve o compromisso no cuidado com os outros, com os doentes, pobres e excluídos que o procuram aflitos e esperançosos.

1-   Cuidar de si:
Em primeiro lugar, um sacerdote deve cuidar muito bem de si: corpo, sentimentos, sensibilidade. Aprender a lidar com pressões e ansiedade. Cultivar o olhar de encantamento e alegria com a Missão e com os jovens. Equilibrar o tempo entre o trabalho e as outras dimensões da vida, exercitar a oração de discernimento para assumir com propriedade o risco das decisões, meditar cotidianamente na Palavra de Deus, estar atento às tentações do poder e de outras esferas (vigiar e orar). Mirar-se em Deus e em sua infinita graça, a fim de não se decepcionar com a falibilidade humana na convivência com os irmãos e com os fiéis. Estando equilibrado, o sacerdote estará apto para cuidar de suas ovelhas e espelhar a imagem do bom pastor.
Este cuidado consigo mesmo requer um certo isolamento para autoconhecimento. Momentos de retirada para o deserto, como Jesus fazia algumas vezes. São muitas as situações em que podemos ver Jesus num ponto solitário e isolado, em atitude de oração, meditação ou contemplação. Muitas e repetidas vezes Ele se afasta do ambiente da multidão, às vezes por toda a noite. Aprendemos com Ele a importância do deserto como lugar de escuta e discernimento no diz respeito à vontade de Deus.
2-           Cuidar das relações com o outro
A proposta salesiana de vida comunitária tem suas vantagens, mas também seus desafios. Não podemos ceder à tentação de fazer das comunidades apenas um local onde cada um de seus membros entra e sai para comer ou dormir, fazendo da casa mais uma pensão do que um lar acolhedor e aconchegante. É preciso cultivar boas relações, testemunhar uma convivência fraterna e familiar. Fazer de cada momento uma oportunidade para refletir a comunhão perfeita: da santíssima trindade. Há muitos momentos para estreitar esta convivência!
Percebo a importância da convivência à mesa para os salesianos, quando me hospedo nas residências, por ocasião das minhas visitas às escolas.
O momento de partilha e comunhão proporcionado pela refeição deve ser cultivado cotidianamente, pois quanto mais profunda a relação e a intimidade entre os que estão à mesa, tanto mais saboroso será o alimento, que carrega em si o tempero da companhia e da amizade. Isto porque a fome física se revolve facilmente, com uma sopa, um pedaço de pão, uma banana, uma maçã...A convivência, entretanto, busca cobrir a lacuna de uma fome muito mais oculta e profundamente humana: a necessidade de estar juntos, de sentir o calor de outras pessoas, de ouvir suas histórias e contar as nossas, de intercambiar experiências vividas e sentidas.
Na refeição, além da comida que ingerimos, nos alimentamos também do olhar, do sorriso, dos gestos, das palavras, dos sucessos ou fracassos, da história viva de quem se encontra à nossa frente ou ao lado. Se a comida combate a fome física, a convivência comunitária combate a fome existencial, espiritual. E quando fazemos parte da vida do outro, a misericórdia e o perdão prevalecem sobre o julgamento e a condenação.

3-           Cuidar do outro.
Os espaços nos quais atuamos, paróquia, obras e escolas, são também o lugar dos embates cotidianos, onde os seres humanos sonham, lutam e nutrem esperanças. Nessa sociedade marcada por tanta injustiça e pelas disparidades econômicas e sociais, a Igreja em geral e os salesianos em particular, são convidados a uma “opção preferencial pelos mais necessitados”. Para sermos fiéis à Missão, devemos nos afiançar na capacitação vinda de Deus.
Depois do episódio da cruz, no caminho de Jerusalém para Emaús, em um primeiro momento, os discípulos estavam cheios de medo, dominados pela sensação de fracasso, correndo da ameaça de perigo a que estão sujeitos os amigos do crucificado. Mas, ao final, após o encontro com o Cristo Ressuscitado, retornam de Emaús para Jerusalém. O caminho é o mesmo, mas a direção e o estado de ânimo mudaram completamente. Diferentemente da ida, o retorno é cheio de alegria, esperança, de novo vigor e entusiasmo. Diante da boa nova, nada e ninguém mais os poderá deter na tarefa de proclamar a Boa Nova do Reino de Deus.
A missão somente se mantém se puder contar com esse processo de espiritualidade enraizada no Evangelho e na pessoa de Jesus Cristo, ressuscitado. Se nos miramos Nele, as adversidades não haverão de superar a coragem e o entusiasmo inicial no momento da nossa ordenação.

Reflexão final....
No dia de hoje, desejo que sua Missão seja fortalecida a cada dia pela consciência do amor do Pai por nós e do nosso compromisso em retribuir, com a nossa própria vida, sua doação.

Assim como um dia, Dom Bosco foi chamado e não pôde resistir, que você também se disponha a perpetuar a boa obra que Ele começou na vida do fundador e que Ele mesmo a complete até os dias de Cristo Jesus.


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