O racismo existe ou é invenção?

Sinto-me especialmente incomodada com algumas situações que presencio. 

São amigas que se referem às suas empregadas como seres menores, são colegas acadêmicos que se referem a alunos ou a outras pessoas como menos capazes, são pessoas que comparam a situação socioeconômica das outras, julgando se teriam ou não condições de fazer alguma viagem, comprar em determinada loja, comer em algum restaurante e por aí vai.

Sem contar as referências aos negros, aos homossexuais, às loiras...

E não posso deixar de citar as pessoas com necessidades especiais. Com essas fazemos pior: como não é socialmente aceitável rejeitá-las, travestimo-nos de piedade e misericórdia e damos a elas um tratamento aparentemente inclusivo.

Eu não posso dizer que as pessoas que se portam dessa forma o fazem de maneira proposital. O fato é que, no cotidiano, usamos palavras ou expressões que, de tão arraigadas, passam despercebidas, mas carregam em si o flagelo do preconceito. Preconceito velado, o que é pior, porque não mostra a cara, não se assume como tal. Difícil combater um inimigo disfarçado. Não se muda algo que simplesmente não existe.

A tolerância das diferenças resume um princípio de igualdade, sem o qual nenhuma sociedade pode ser sustentável. O preconceito velado é perigoso, porque, em pequenas doses, mantém os paradigmas inalterados e aumenta a distância entre os cidadãos. Revela a inabilidade das pessoas para ver algo novo e agir de forma diferente.

Eu me sinto mal com comentários que diminuem ou segregam o outro. Isso me conforta porque sinaliza que a chama da ética e do respeito ainda ardem em meu coração.
Como educadora e cristã, não posso perder a capacidade de me indignar, e é por isso mesmo que estou indignada com algo que vi na internet: um anúncio de emprego que nos lembra os tristes tempos da escravidão. É desanimador perceber como o racismo à brasileira é algo tão real e duradouro. Trata-se da foto de um cartaz, no qual estava escrito:

“Precisa-se de pessoa branca, profissional, boa aparência, com ferramentas, que saiba tudo de obras: bombeiro hidráulico, eletricista, pedreiro, ladrilheiro, servente que saiba emassar. Se você tem todos esses requisitos, é só entrar em contato direto com Russo, pelo telefone 7550-71XX. SÓ BRANCOS”.

Segundo o Jornal do Brasil a pessoa identificada apenas como “Russo”, ainda sem saber da repercussão do seu anúncio, esclareceu, para alguns que telefonaram para saber da vaga, que “se for um mulato bem clarinho, pode”. Quando questionado sobre a razão da negativa para negros, “Russo” justificava que era um pedido dos condomínios para os quais os trabalhadores seriam mandados.
É assustador que algum empresário nesse país tenha a coragem de expressar tal discriminação quando temos uma lei que prevê o racismo como crime inafiançável.

Qual o papel da escola?

A escola tem um papel fundamental na mudança de paradigmas e na construção da autoestima das pessoas. Entenda-se por autoestima o sentimento e a opinião que cada pessoa tem de si mesma. É na infância, no contato com o outro, que construímos ou não a nossa autoconfiança.

As experiências do racismo e da discriminação racial determinam significativamente a autoestima dos adultos negros. Então, o caminho para a construção de uma autoimagem positiva está calcado em uma sociedade mais justa e igualitária, no reconhecimento e nos valores de cada indivíduo como um ser essencial.

Um caminho para atenuar o preconceito e, com o tempo, exterminar, é trabalhar nas escolas a Lei nº 10.639, na qual somos orientados a incluir as temáticas da Cultura Afro-brasileira nos currículos nacionais de educação. Não se ama aquilo que não se conhece. O currículo escolar deve considerar a identidade dos afrodescendentes, considerar a imensa influência que a cultura africana sempre exerceu sobre o modo de ser do povo brasileiro e de todo o mundo.

Na sua sala de aula, explore a influência dos artistas negros nas artes, na música, na literatura. Faça exposições, problematize reflexões.
Você se emocionará e se surpreenderá com tudo que vai descobrir e ainda constatar que o saber não tem cor e a alma também não

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