Letra cursiva: sim ou não?
Quando introduzir a letra cursiva? Ela é essencial na vida dos alunos?
Alguns chegaram a dizer que a letra cursiva é imprescindível
para trabalhar a coordenação motora das crianças. E ainda, que para se ter uma
letra bonita precisam sim, treinar bem o traçado.
Será? Conheço pessoas que tem excelente controle motor e a
letra deles é horrível! E será que coordenação motora é pra ser trabalhada
utilizando-se o treino de letra cursiva? Penso que jogar bola, correr, rodar
pneus, arcos, rolar na terra, subir em árvore é muito mais eficaz- e prazeroso!
O motivo de eu polemizar o assunto é que li uma reportagem
que me chamou muito a atenção. Na semana passada, os finlandeses, que são
líderes no PISA e cujo país tem a educação mais eficaz do mundo, ficaram
sabendo pelos jornais e noticiários que o Ministério da Educação pensa em
terminar com o ensino da letra cursiva nas escolas, ensinando apenas a letra de
forma. Uma notícia que já era de se esperar num país onde a tecnologia é
altamente utilizada e todas as crianças antes de se alfabetizarem já sabem
mexer em computadores, tablets e telefones.
Mesmo assim, nós com mais de trinta anos (eu um pouquinho
mais que isso!), não deixamos de ficar surpresos pela notícia que mostra que o
futuro tecnológico está muito mais perto do que imaginamos. Mesmo defendendo
que a letra retrata a personalidade e que é inútil ficar fazendo treinos,
quando fiquei sabendo que o fim do ensino da letra cursiva, está ameaçada de
extinção por decreto, o choque foi inevitável.
Por enquanto, isto é uma sugestão de projeto e que se aceito
entrará em vigor em 2016.
As crianças aprenderiam a reconhecer as letras escritas de
forma cursiva mas estariam desobrigadas da tarefa enfadonha de tentar
reproduzir as suas curvas e especificidades. Seriam capazes de ler mas não
obrigadas a reproduzir.
Para este grupo, a escola não pode se isolar em si mesma em
técnicas ultrapassadas ignorando o que faz parte da vida dos alunos e como eles
se expressam. Hoje em dia se digita muito mais do que se escreve. Inclusive
pessoas adultas em suas rotinas de trabalho utilizam cada vez menos o lápis e o
papel, uma vez que podemos anotar nossos compromissos até nas agendas dos
nossos telefones.
Particularmente, não acho imprescindível o ensino da letra
cursiva. Diariamente me deparo com alunos cujas letras cursivas são ilegíveis.
Eu mesmo lhes sugiro escrever com letras de forma. O que importa, penso eu, é a
legibilidade do texto. Principalmente em processos avaliativos como ENEM e
concursos.
O problema que pode surgir da prática do não ensino da letra
cursiva, no meu entender, não está relacionado à aprendizagem de certas
habilidades motoras específicas, que se desenvolvem com a prática do traçado
desse tipo de letra, mas sim está relacionado com o fato de que, muitas vezes,
quem se habitua a escrever apenas com letras de forma, acaba não sendo
estimulado também a aprender a distinguir e respeitar as convenções da escrita.
Uma dessas convenções é particularmente importante: a
distinção entre letras maiúsculas e minúsculas, que é significativa na maioria
das línguas, inclusive na língua portuguesa. Já vi muitos alunos que escrevem
apenas com letras maiúsculas ou que misturam letras maiúsculas com minúsculas,
sem ter em conta as convenções de uso adequado de umas e de outras.
E esse fato, sim, afeta a legibilidade e até mesmo a
compreensão dos textos, especialmente os gêneros mais complexos.
Por enquanto o projeto está em discussão, vamos ver no que
vai dar.
Pensemos com carinho sobre o ensino precoce da letra cursiva
e suas repercussões para as crianças. A reflexão que provoco abaixo é baseada
em uma fato real:
A mãe chega em casa
exausta e diz ao filho que não vai atender ninguém, porque está muito cansada e
teve um dia muito difícil. O telefone toca e o filho de 5 anos atende. É alguém
querendo falar com a mãe e ele logo diz que ela não pode atender porque teve um
dia difícil e está muito cansada. A pessoa pergunta:
- Mas o que aconteceu
com ela?
E o menino responde:
- Não sei não, mas
acho que ela está aprendendo letra cursiva!
A letra cursiva faz parte da vida acadêmica, mas como tudo
na vida, ela tem sua época certa. Já está provado, por meio de estudos
científicos publicados no meio acadêmico, que a letra cursiva só deve ser
introduzida quando a criança já domina o código, ou seja, quando ela está
alfabética ou alfabetizada. Antes disso é enfado e canseira e não tem o menor
sentido para a criança.
INTERAGIR com a letra cursiva é necessário. COBRAR deve ser
um ato condizente com a possibilidade de resposta. Há que se considerar, além
do contexto, a idade e a maturidade, afetiva e biológica dos alunos.
Além do mais, gastar tanto tempo cobrando um traçado
certinho já não faz mais sentido, em um mundo digital. A tecnologia está aí,
ganhando as salas de aula e a simpatia dos alunos.
Então vamos refletir: o que estamos fazendo com as nossas
crianças?
Diante de um novo mundo, uma coisa é certa: mudanças ainda
virão e a pergunta é:
Nós professores, estamos prontos para estas mudanças?
Oi Priscila, sou da Primeira Igreja e já ouvi uma palestra sua lá. Resultado: sou sua fã. Estou em contato porque quero indicar seu nome na escola dos meus filhos para uma palestra para os pais. Eles estudam no Colégio Neusa Rocha/Rouxinol. Posso?
ResponderExcluirAbraços,
Cláudia S. Vilela Paes Figueiredo
Oi querida!
ExcluirAgradeço seu carinho! Ficarei feliz com a indicação. Meus contatos: priscilaboy@terra.com.br
Não sei qual é a utilidade da letra cursiva, a criança na segunda série tem que aprender o alfabeto todo de novo por causa dela. Nada é escrito em letra cursiva, livros, mídia, computador, é tudo "letra solta". Até acho que na verdade a letra cursiva pode ter sido algo criado para economizar tinta quando não havia imprensa.
ResponderExcluirE cadernos de caligrafia tornam o ensino penoso, é para a letra de todos ficar redondinha, bonitinha, criar um padrão. E isso não funciona, letra é uma espécie de impressão digital, cada um tem a sua. Depois que tiram esses cadernos cada um escreve do jeito que quer, já percebi isso. Não tem função querer imitar a letra do outro. Caligrafia sempre foi uma questão de "frescura", de boa apresentação, mais um capricho do que uma utilidade.