Filhos com necessidades especiais, pais com atitudes especiais
Por Priscila Pereira Boy*
O nascimento de um filho mexe
com a gente. Muitas vezes, vai mexer na estrutura familiar e na organização da
casa. Ter uma criança com necessidades especiais não é uma situação simples,
tampouco confortável.
O primeiro desafio é lidar com
a frustração. Quando uma criança nasce, os pais costumam depositar várias
expectativas sobre seus filhos com o intuito, na maioria das vezes
inconsciente, de diminuir suas próprias frustrações do passado. Um filho é uma
extensão de nós mesmos.
Outro desafio é lidar com as
cobranças e os preconceitos das outras pessoas. Uma criança com necessidades
especiais, como qualquer outra, deve ser protagonista de sua própria história.
Como pais e profissionais,
devemos evitar superprotegê-la, poupá-la, subestimá-la. A criança com
necessidades especiais deve ser vista essencialmente como CRIANÇA e, portanto,
como PESSOA. Desde o início, deverá ser consciente de que tem limitações,
dificuldades, diferenças, como, na verdade, todos temos. E, ao mesmo tempo, ser
levada a ver tudo o que tem de bom, seus talentos e habilidades.
É importante saber
comportar-se em sociedade. Distinguir o certo e o errado, cumprimentar as
pessoas, agradecer e pedir licença. São aspectos importantes a serem
estimulados e ensinados.
Executar ações pela criança
pode parecer a você uma demonstração de carinho, mas é também um modo de
atrasar o percurso que a leva à autonomia. Deixe que seu filho realize pequenas
tarefas. Pode levar mais tempo e ter resultados não tão perfeitos, mas é
através da experiência que aprendemos. É percebendo que sapatos trocados
incomodam que a criança verá a necessidade de calçá-los corretamente na próxima
vez.
A criança com necessidades
especiais geralmente tem uma agenda lotada de compromissos educativos e
terapêuticos. Poder dispor do próprio tempo e desenvolver atividades que
proporcionem prazer e respeitem suas habilidades (nem toda criança se
identifica com a água; o ballet que encantou uma, pode não ser prazeroso para a
outra) é fundamental para a criança.
Isso é importante para que ela
não se sinta sobrecarregada e desrespeitada em suas preferências. Resolver por
ela, o que ela vai vestir, o que vai comer, que filme vai assistir, também não
é uma boa opção.
Geralmente impomos à criança
aquilo que achamos melhor para ela. Se lhe dermos a possibilidade de escolha
(queijo ou geléia, bermuda ou calça, Peter Pan ou Mogli), estaremos fazendo com
que analise, raciocine, compare e decida ao invés de receber tudo pronto. E,
acima de tudo, estaremos dando a ela o direito de ter gostos e preferências,
bem como construindo um indivíduo que saberá aceitar ou não o que lhe for
oferecido, que saberá que tem a possibilidade de decidir o que é melhor para si
mesmo. Porque não somos eternos. Um dia os pais irão embora e a criança deve
construir uma vida autônoma para que possa dar continuidade a sua existência,
mesmo sem a presença dos pais.
Ações para promover a
independência da criança são fundamentais: aprender a ler, pegar um ônibus
sozinho, consultar coisas na internet, usar o telefone e administrar seu
próprio dinheiro. Coisas que para as crianças ditas “normais” são naturais ao
longo do tempo, mas que para as crianças como necessidades especais pode levar
mais tempo.
O maior bem que podemos fazer
a uma criança com necessidades especiais é aceitá-la como ela é, pois desta forma, ela se tornará uma criança feliz!
*Priscila Pereira Boy é
pedagoga, Mestre em Ciência da educação, escritora e Consultora educacional. Atualmente é
apresentadora do canal “Familias Conectadas” no youtube.
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