A culpa não é minha

Assistindo a TV ontem, deparei-me com a notícia de que os donos da boate KISS, no Rio Grande do Sul, serão julgados. Pra quem não se lembra, a boate pegou fogo e matou muitos jovens que não conseguiram sair do recinto. Uns morreram asfixiados, outros queimados. Por causa da comoção nacional, todo mundo clama por justiça.

Esta avidez na busca por culpados acabou me fazendo refletir: somos assim mesmo. Temos sempre a tendência de expiar as culpas em alguém:
os bombeiros são os culpados, não, são os músicos da banda, não, são os donos da casa noturna, não, são os jovens que não tinham que estar lá, não, são os pais que não deviam tê-los deixado ir, não, é a prefeitura que não investe em leis mais severas e não fez a fiscalização.

E as mortes posteriores dos sobreviventes são culpa da falta de estrutura da saúde, do governo, etc....
Não pensem que estou defendendo a impunidade. Penso que deve haver apuração, punição severa e aprendizado, para evitar tragédias futuras.
Eu apenas me lembro de várias situações cotidianas nas quais preferimos debitar na conta do outro as nossas próprias responsabilidades:

O casamento não vai bem porque meu marido é muito difícil.
Minha esposa reclama de tudo, por isso não vivemos bem.
Meu filho está naquela fase rebelde, por isso o clima lá em casa é de tanta desarmonia.
Minha mãe não larga do meu pé, não aguento mais as cobranças, por isso eu a trato com tanta agressividade.
Meus alunos são terríveis, por isso não dou boas aulas.
Meus amigos não me ligam, não me dão valor, por isso eu sou tão triste assim.
São tantos os culpados pelas nossas insatisfações e ações, que a lista chega a não ter fim.

E agora que você leu isto, você ficou preocupado se por acaso está transferindo suas culpas a alguém que não seja você mesmo.


E a culpa disto é minha. Quem mandou eu escrever este artigo?

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