Artigo publicado no jornal Ana Lucia, de BH

Consumismo e amor de mãe
Por Priscila Pereira Boy
Pedagoga- Mestre me Educação

priscilaboy@terra.com.br www.priscilaboy.blogspot.com

Era tarde de domingo e eu estava inquieta, assentada na frente do meu notebook, sem saber ao certo sobre qual assunto deveria permear minha coluna deste mês. Minha filha Paula Boy, de apenas treze anos percebeu minha agitação e perguntou o que estava acontecendo. Eu disse que estava pensando sobre o que escrever na minha coluna do jornal, que estava no limítrofe do prazo e ela me ofereceu um “ artigo” dela para me ajudar a aplacar minha angústia.

-“Eu escrevi algo sobreo consumismo, acho que dá para ser um artigo. Se a senhora quiser, eu pego lá pra que a senhora use na sua coluna.”

Na mesma hora eu topei e ela veio com a folha na mão e começou a ler o que ela havia escrito:

CONSUMISMO ( Paula Pereira Boy)
“Meu sapato é de marca.”
“Você não tem isso.”
“Seu celular é ruim.”
“Que roupa fora de moda!”
“Que carro ultrapassado!”
“Eu tenho tal coisa”
“Sou mais rico que você.”
“Isso foi tão caro!”
Quem nunca ouviu alguma coisa dessas? Isso faz parte da vida, não dá pra evitar algo assim, não é? Sempre vai ter alguém “melhor” que você, com roupas mais caras, tênis de marca, um celular moderno, um carro de última geração...
Isso estimula o consumismo, um vício que, no final pode trazer várias consequências para uma pessoa. Já se imaginou comprando cada celular novo que aparece? Nossa! Ia ser uma loucura! Sem falar nas dívidas, vendendo o carro talvez conseguiria pagar.
O consumismo não faz bem pra ninguém, é fruto de uma competição para ver quem é o melhor. Te fazem acreditar que para ser feliz tem que ter tudo do bom e do melhor. Não acredite que não pode ser feliz sem o IPhone 5, você é o que é, quer as pessoas gostem ou não.


Quando ela terminou a leitura, confesso que engoli seco. Fiquei emocionada com a produção dela e me esforcei para não derramar lágrimas, porque pensei que chorar diante de uma leitura era meloso demais, mesmo para uma mãe, então me contive somente nos elogios que fiz a ela.

É incrível o sentimento que nutrimos pelos filhos. Sempre os vemos como as melhores pessoas do mundo. Os mais bonitos, os mais espertos. Podemos até reconhecer que eles cometem erros, mas tratamos de encontrar desculpas para justificá-los.
Eu achei o artigo da minha filhota algo fenomenal! E fiquei pensando se o fato de ser mãe dela estava me deixando míope, comprometendo meu espírito crítico em relação ao texto, mas cheguei à conclusão de que o "artigo" ficou bom mesmo!

Uma garota de 13 anos que consegue traduzir, em um texto, um assunto que vem sendo amplamente discutido, inclusive por especialistas, merece admiração.

O consumismo está acabando com as relações, está substituindo afetos , amores e sentimentos por coisas. Ele nos leva a crer que somos o que temos e quanto mais pensarmos assim, menos somos.

O consumismo leva à exploração das pessoas, o cerceamento da dignidade humana, a utilização de mão de obra infantil, o roubo da infância, da honestidade, da transparência...

O consumismo faz filhos e os deixa órfãos, porque em uma sociedade capitalista selvagem, não há parentesco, não há laço, não há bem estar. Só há o desejo de lucrar, de ter mais, de adquirir a qualquer custo, mas a um alto preço.

O consumismo nos desfoca das coisas simples da vida, com ler um texto da filha, como ser observada por ela, como a emoção de vê-la crescer consciente e lutadora por um mundo mais humano onde a única coisa que a gente queira ter, seja a FELICIDADE!

Ah! E esta bonitona que está na foto comigo é minha garotinha, a Paulinha.

Comentários

  1. Obrigada Waguinho! Certamente educar os filhos é uma semeadura diária...de repente, a gente acaba colhendo os frutos! Abração.

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