A Base Nacional Comum a todos: o medo
O anúncio das mudanças do formato do Ensino Médio e a homologação da nova BNCC causou grande celeuma
no meio educacional.
Jornais, revistas, redes sociais e todas as mídias se voltaram
para esta temática.
Educadores tentando compreender tudo e calculando o impacto que
elas trarão para suas práticas cotidianas.
Gestores, especialistas, pais e alunos, todos querendo compreender
o fenômeno e saber o que de fato vai afetar suas vidas e sua prestação de
serviço.
Em síntese, a proposta está pautada em uma Base Nacional Comum, ou
seja, disciplinas obrigatórias e outra parte de livre escolha dos estudantes.
Toda esta movimentação, me fez refletir: o novo assusta.
Desconstruir as bases, rever paradigmas, pensar na possibilidade de tatear no
escuro, causa sentimentos diferenciados nas pessoas. Mas, todos eles escondem “uma
base nacional comum”: o medo.
O fantasma do medo assola todas as pessoas. Medos diferenciados é bem verdade, mas
presentes em todos nós.
Para os profissionais da educação, ou o setor que está envolvido
com ela, os medos são mais concretos. Em primeira linha está o medo de perder o
posto de trabalho, associado à demora para encontrar outro caminho. E a temida
sensação de que os rendimentos familiares, raros, não chegarão ao final do mês,
ou de que não se saiba onde buscar o alimento para o dia seguinte.
Aos que ocupam uma posição de liderança e são mais abastados, que
tem investimentos, são donos de escola, sistemas de ensino, editoras e empresas
fornecedoras e afins, prevalece o medo diante do humor sempre instável e
imprevisível do mercado. Medo de perder o negócio, os privilégios conquistados,
a riqueza, a renda, enfim, de perder a posição social e a consolidação diante
do mercado educacional.
Espremida entre os educadores e os investidores, os alunos e as
famílias também tem seus medos, porque, por natureza, morrem de vontade de
subir na vida por meio da educação e, simultaneamente, morrem de medo de que a
qualidade e as oportunidades venham a cair.
Outros medos ocultos e invisíveis povoam o coração, a mente e a
alma do ser humano cotidianamente:
Medo da solidão e da multidão; medo da dor e
da doença, particularmente aquela que nos deixa, em tudo e para tudo,
dependentes de outrem; medo de perder o calor, conforto e refúgio do lar, da
separação dos entes queridos, da velhice inexorável, do convívio permanente com
o fantasma da morte; medo do amanhã, do erro quanto à escolha nas relações
pessoais, familiares e comunitárias, bem como quanto à opção profissional; medo
da sensação de vazio, de falta de sentido e de inutilidade da própria
existência; medo de avião, de elevador e de altura; fobias...
E há um medo bem característico da sociedade moderna ou pós-moderna,
contemporânea e extremamente competitiva. Trata-se do medo de ficar para trás.
Disputa frenética pelos objetos da última temporada, pelos
aparelhos da tecnologia de ponta, pelo carro do ano, o celular do momento, a roupa
e o calçado da moda... Medo de perder a corrida para o vizinho ao lado, o
parente esnobe ou o companheiro de trabalho. Medo de se tornar antiquado,
tradicional, ultrapassado; do correr dos anos que faz ganhar peso, perder
cabelo e criar rugas. Medo de não aparecer como o primeiro no bairro, na
família e entre os amigos.
Medo do Ranking do ENEM. E da perda de alunos.
Isso mesmo, sai de cena a
famosa frase da tragédia de Shakespeare, em Hamlet, “ser ou não ser, eis a
questão”. Aqui o importante não é ser, mas pura e simplesmente aparecer. Como
nos sinaliza o francês Guy Debord em seu livro “ A sociedade do espetáculo”:
TUDO O QUE É BONITO APARECE. TUDO O QUE APARECE É BONITO.
Quantos medos moram no íntimo do coração humano, povoam sua mente,
e lhe atormentam a alma?! Quantos medos sobrecarregam os ombros de todo ser
humano?
Medos resistentes como
ervas daninhas, difíceis, quase impossíveis de exorcizar!
Como uma pessoa de bases cristãs que sou, penso que talvez nos
falte um dos ingredientes que, desde os primórdios da história da humanidade, contribuíram
decisivamente para o crescimento desta civilização. Refiro-me à tradição
judaico-cristã, tão fortemente enraizada nos países e culturas ocidentais. Sim,
talvez estejamos carentes da utopia da Terra Prometida ou da Boa Nova do
Evangelho, o Reino de Deus, com seu horizonte escatológico.
Efetivamente, a vida, ação, obras e palavras de figuras como
Jesus, Moisés e Paulo (para citar apenas esses testemunhos) nos asseguram que
as pessoas movidas pela fé, esperança e caridade são capazes de exorcizar o
fantasma do medo em suas mais diversas máscaras e ameaças. E temos outras
figuras históricas, que nos ensinam com sua garra e determinação a enfrentar os
medos frente a um ideal: Mandela, Gandhi, Madre Teresa de Calcutá.
Para não ficar só em exemplos da esfera da fé e contemplar também os
céticos com histórias de esperança, temos o grupo Alpargatas (das sandálias
havaianas) que se deparou com os novos entrantes e mudanças e resolveu se
reinventar e dar a volta por cima.
Contrariamente, a Kodak, que detinha grande parte da fatia do mercado
da fotografia no mundo, se recusou a dialogar com as novas tendências do
mercado e foi engolida pelo Instagram, para onde migraram os amantes da
fotografia.
Só existe uma forma de vencer o medo: é encarnado o medo de
frente!
Ao nos darmos conta de que toda novidade traz
consigo uma grande oportunidade, nossos medos se transformam em esperanças
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