Você é uma pessoa racista?
Você é uma pessoa racista? A resposta a esta pergunta é sempre não. Ninguém se assume racista. Mas, é visível o quanto o racismo ainda está longe de ser história do passado.
Como educadora e cristã, não
posso perder a capacidade de me indignar, e é por isso mesmo que estou
indignada com alguns fatos que aconteceram semana passada.
George Floyd,
de 40 anos, morreu asfixiado enquanto o policial que o rendeu manteve-se
ajoelhado sobre seu pescoço. Fortes imagens que circulam amplamente nas redes
sociais, filmadas por testemunhas, mostram que Floyd afirmou que estava sendo
sufocado diversas vezes. “Não consigo respirar”, disse, repetidamente.
No entanto, o policial
permaneceu na mesma posição. Em outro momento, ele clamou: “Não me mate”. Tudo
filmado, em plena luz do dia. E NINGUÉM fez nada para salvar o homem.
Uma estudante negra de 15 anos
foi alvo de comentários racistas por colegas de classe em um grupo de WhatsApp,
no Rio de Janeiro. Não é a primeira, nem a última a ser atingida pelo racismo.
Fatou Ndiaye, 15,
filha de senegaleses, recebeu prints de mensagens em que colegas sugeriram
trocar "dois índios por um africano", "1 negro vale uma jujuba,
1 negro vale um pedaço de papelão". ...
A gente acha isso um absurdo,
mas fazemos muitas coisas parecidas no dia a dia. Sinto-me especialmente
incomodada com algumas situações que presencio.
São amigas que se referem às
suas empregadas como seres menores, são colegas acadêmicos que se referem a
alunos ou a outras pessoas como menos capazes, são pessoas que comparam a
situação socioeconômica das outras, julgando se teriam ou não condições de
fazer alguma viagem, comprar em determinada loja, comer em algum restaurante e
por aí vai.
Sem contar as referências aos
negros, aos homossexuais, às loiras...
E não posso deixar de citar as
pessoas com necessidades especiais. Com essas fazemos pior: como não é
socialmente aceitável rejeitá-las, travestimo-nos de piedade e misericórdia e
damos a elas um tratamento aparentemente inclusivo.
Eu não posso dizer que as
pessoas que se portam dessa forma o fazem de maneira proposital. O fato é que,
no cotidiano, usamos palavras ou expressões que, de tão arraigadas, passam
despercebidas, mas carregam em si o flagelo do preconceito. Preconceito velado,
o que é pior, porque não mostra a cara, não se assume como tal. Difícil combater
um inimigo disfarçado. Não se muda algo que simplesmente não existe.
A tolerância das diferenças
resume um princípio de igualdade, sem o qual nenhuma sociedade pode ser
sustentável. O preconceito velado é perigoso, porque, em pequenas doses, mantém
os paradigmas inalterados e aumenta a distância entre os cidadãos. Revela a
inabilidade das pessoas para ver algo novo e agir de forma diferente.
Eu me sinto mal com
comentários que diminuem ou segregam o outro. Isso me conforta porque sinaliza
que a chama da ética e do respeito ainda ardem em meu coração.
Os pais brancos também devem
garantir que os filhos estudem com negros. É uma das coisas que se deve fazer
para não viverem em uma bolha. Ter uma boneca negra nesse espaço, por exemplo,
não serve só para o negro ser incluído, mas para o branco não se sentir como
centro do mundo.
Qual o papel da escola?
A escola tem um papel
fundamental na mudança de paradigmas e na construção da autoestima das pessoas.
Entenda-se por autoestima o sentimento e a opinião que cada pessoa tem de si
mesma. É na infância, no contato com o outro, que construímos ou não a nossa
autoconfiança.
As experiências do racismo e
da discriminação racial determinam significativamente a autoestima dos adultos
negros. Então, o caminho para a construção de uma autoimagem positiva está
calcado em uma sociedade mais justa e igualitária, no reconhecimento e nos
valores de cada indivíduo como um ser essencial.
Um caminho para atenuar o
preconceito e, com o tempo, exterminar, é trabalhar nas escolas a Lei nº
10.639, na qual somos orientados a incluir as temáticas da Cultura
Afro-brasileira nos currículos nacionais de educação. Não se ama aquilo que não
se conhece. O currículo escolar deve considerar a identidade dos
afrodescendentes, considerar a imensa influência que a cultura africana sempre
exerceu sobre o modo de ser do povo brasileiro e de todo o mundo.
Na sua sala de aula, explore a
influência dos artistas negros nas artes, na música, na literatura. Faça
exposições, problematize reflexões. E esteja atento, não permita comentários,
piadas e abordagens racistas.
Você se emocionará e se
surpreenderá com tudo que vai descobrir e ainda constatar que o saber não tem
cor e a alma também não.
Segundo a lei, o racismo é
crime, segundo o Gabriel, o pensador, é burrice, segundo a bíblia, livro
sagrado para cristãos como eu, é pecado.
Seja por medo da lei, por
bandeira ideológica, ou por amor a Deus, pare de ser racista.
Priscila,
ResponderExcluirAmeio o seu texto. Excelente reflexão. Estou compartilhando com a minha rede e, se julgar viável, deixo aqui o meu convite para participar de um grupo de discussões educacionais no WhatsApp:
https://chat.whatsapp.com/J40o6ADZYct5bRMqceEBUZ
Eu acredito na educação também e este momento é um divisor de águas.
ResponderExcluirParabéns, Professora Priscila Boy por esse excelente artigo, muito oportuno neste contexto social em que vivemos. Que possamos olher o "outro" com os olhos de Jesus. Não adianta dizer que somos cristãos se não não agimos disseminando o amor de Deus entre todos, independente de quem seja. Brilhou.
ResponderExcluirMuito bom com certeza vou repassar
ResponderExcluir