Ser, ter ou parecer? A sociedade do espetáculo
Vivemos um momento de exposição constante. O privado cede lugar ao público, ao explícito. Rompem-se as fronteiras do segredo, da intimidade, do secreto. Estamos num tempo complexo, mesclado de espetáculos naturais e artificiais, influências de todas as partes, e imersos num mundo de culturas híbridas, que pode ser definido como um rompimento entre as barreiras que separa o que é tradicional e o que é moderno.
Com a globalização, predominantemente capitalista, recheada
de estratégias de marketing, há um desdobramento de definições sociais onde o ser
perde espaço para ter.
Importante é consumir e este consumo acaba se transformando
em uma grande armadilha, um buraco sem fundo.
Antes os produtos eram criados
para suprir as necessidades das pessoas. Agora, estes são criados para gerar
novas necessidades. Nunca se está satisfeito. Sempre há um algo a consumir, um
“plus” a mais, um complemento. As
pessoas consomem, mas estão sempre insatisfeitas, infelizes e incompletas com
suas aquisições.
Segundo Alfredo J. ai se revela claramente a sociedade das armadilhas. Estas se
escondem e dissimulam, uma em cada curva e em cada passo do caminho, uma em
cada novo lançamento mercadológico. De vários modos manifestam sua fumaça
ilusória e passageira: na fórmula mágica dos produtos que prometem eliminar a
queda de cabelo, a gordura acumulada ou os efeitos do tempo, prometendo como
aditivo um rejuvenescimento contínuo; nos dispositivos cada vez mais
sofisticados e inovadores dos aparelhos eletrônicos, que os tornam obsoletos já
no ato mesmo de serem adquiridos e tantas outras coisas...
E por falar em tecnologia, a chegada dela nos coloca diante
de outra situação: o ter perde espaço para o parecer.
O mundo virtual nos traz novos paradigmas:
o indivíduo passa a ser e a viver uma vida sonhada e idealizada, na qual
a ficção mistura-se à realidade, e vice-versa. Já não sabemos mais quem somos:
seres reais ou idealizados, “avatares”, atrás dos quais nos escondemos para
navegar no mundo virtual. Podemos ser quem quisermos, agir de forma
encantadora, sermos os seres mais felizes do mundo.
Essa constante exposição
virtual, transmite uma sensação de permanente aventura, felicidade,
grandiosidade e ousadia. Mas, no fundo, gera uma grande frustração. Acabamos
por perder nossa identidade. Já não sabemos mais se somos o que postamos, se
somos o que vivemos ou o que gostaríamos de ser.
A excessiva exposição nos leva a não conviver com a
realidade. O importante é produzir imagens e dá-lhe postagens.
Estamos no velório? Tiramos uma selfie e postamos nossas
condolências, ao invés do abraço apertado e presencial.
Estamos em uma festa? Outra selfie para mostrar a nossa
felicidade, ao invés de aproveitar os amigos, curtir, dançar um pouco, comer
bastante e sorrir.
Estamos no show? Perdemos o espetáculo ao vivo, pois o vemos
pela lente do celular, com inúmeras fotos e filmagens que fazemos, porque temos
que mostrar aos amigos que estávamos lá. Pra depois, claro, postar.
Mas, nada se compara ao tal do “Zap, zap” ( Whatsapp)! Ele
nos consome toda a atenção e tempo. Um monte de vídeo que a gente recebe, cada
um mais sem pé nem cabeça que o outro. Se você entra em um grupo de educação,
daí há pouco o povo já está trocando receitas e falando o que a gente faz para
emagrecer mais rápido.
Entra em grupo da igreja e o povo xinga, fala palavrão,
manda foto sensual.
Uma mistura que no fim a gente acha até graça! É muita
vontade de aparecer!
É A sociedade do espetáculo, como descreveu muito bem o
francês Guy Debort, que em seu livro, nos alerta que “tudo o que é bonito aparece, tudo
que aparece é bonito”. Quando
tudo se torna espetáculo, tudo pode igualmente converter-se em escombros e
ruínas. Acabamos por nos desumanizarmos, transformarmos as pessoas em meros
objetos de prazer. E o pior que nos acontece é que não sabemos mais quem somos
nós.
O que importa é parecer e não ser.
Talvez o maior desafio da sociedade contemporânea, global,
pluralizada e informatizada seja este: tornar reais e solidárias as relações
virtuais, fazer descer das nuvens à terra o mundo cibernético, tornar próximos
os laços à distância. E como sinaliza o sociólogo polaco Zigmund Bauman, não fazer das relações "amores líquidos e fluídos" e nem das redes sociais armadilhas.
E aqui entramos no campo da ética e das opções pessoais. O
desafio – e não é pequeno – reside no ato de superar o egocentrismo da sociedade
atual, por uma rede de relações verdadeiras.
O desafio é fazer a vida real
tão bela quanto a vida virtual.
Priscila Boy é Pedagoga- Diretora da Priscila Boy Consultoria, escritora e palestrante.
Um texto sensível à realidade dos nossos tempos.
ResponderExcluirExcelente para ser trabalhado com os jovens, pais e educadores! (Simone Araujo)
Obrigada querida! Um prazer ter vc aqui no blog! Beijos
ExcluirRealmente um texto muito bom para nossa reflexão. O que será desse mundo, as pessoas vivem de aparência de post, de um "parecer" tudo lindo, tudo perfeito, sempre feliz quando na verdade se tem um grande vazio de tudo.
ResponderExcluirObrigada pela participação aqui no blog. Abraço.
ExcluirAmei o texto, realmente é a mais pura realidade, triste, mas real!!
ResponderExcluirExcelente reflexão!
ResponderExcluirExcelente texto!!!
ResponderExcluirO tema abordado é tão caro que, no projeto do Ensino Médio do CSVP, incluímos uma trilha pedagógica que tem por título Produção Cultural e Sociedade do Espetáculo.
Abração fraterno.
Muito bacana!
ExcluirProfessora Priscila, posso usar seu texto em minhas aulas de Sociologia, com alunos do 1º ano do Ensino Médio? Fico com a certeza que vai render uma boa discussão.
ResponderExcluir@profe_elixdonatti
Quem é Alfredo J.?
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